Evento foi grande troca e celebração das potencialidades da negritude
A edição de julho do Encontro da Diversidade foi uma promoção conjunta entre a entidade sindical e a Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição (Aserghc), em nova ação do projeto Integra+ Sindisaúde-RS. O evento, realizado nessa quarta-feira (24), foi alusivo ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho. A data destaca a luta das mulheres negras contra o racismo e muitos outros preconceitos sobrepostos dos quais são vítimas cotidianamente. A ideia é, a partir da visibilidade dessas desigualdades, promover a construção de um pensamento mais justo e igualitário na sociedade, gerando oportunidades e direitos.
As mulheres negras são as maiores vítimas de violência no Brasil. Isso fica claro nos dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 18 de julho. O levantamento mostra que todas as modalidades de violência contra a mulher cresceram, mas é entre a população negra e mais vulnerável que isso fica ainda mais alarmante, pois são as meninas negras de até 13 anos as maiores vítimas de estupro, por exemplo. O estudo foi lembrado pela diretora da pasta de Assuntos de Gênero, Raça e Diversidade Sexual do Sindisaúde-RS na abertura do encontro. Catarina Gomes conclamou a todos para uma reflexão sobre os números chocantes que a pesquisa traz e disse que, embora não possamos e não devamos nos fixar nas tragédias, pois isso significa muito sofrimento, precisamos nos empoderar desses índices para reunir forças em combater esse absurdo.
Márcia Leal, Marly Magalhães da Roza e Catarina Gomes
Marcia Leal, diretora da pasta de Raça, Gênero e Diversidade da Aserghc, lembrou a importância da informação para a conquista de direitos pela população negra. Ela defendeu que é necessário ter consciência de quais são e buscá-los sempre, ponto também salientado por um dos palestrantes, o enfermeiro gestor do Ambulatório T de Canoas, especialista em saúde pública, Sergio Prinstrop. Ele pontuou que muitas das demandas da população negra e da população LGBTQIA+ só foram alcançadas através da judicialização. “A Lgbtgobia, por exemplo, foi equiparada ao crime de racismo depois de muita judicialização. São questões que vêm da população e só conseguem se aproximar da forma de direitos desse jeito, e é importante porque a pena, quando aplicada, traz educação e sensibilização à sociedade”, comentou.
Sergio expôs a realidade com a qual convive diariamente, de pessoas transnegras que passam a vida toda tendo sua liberdade, autoestima e força minadas pela sobreposição de preconceitos. “São pessoas já marginalizadas pela cor, que ainda enfrentam o preconceito por serem homens e mulheres trans”, relatou. O enfermeiro ainda declarou que esses acúmulos de preconceitos fazem com que essas pessoas sejam as que menos buscam os serviços de saúde, e defendeu a capacitação dos profissionais para que possam acolhê-los da forma correta. “Se os governos e os gestores de saúde não investem na promoção da educação de quem vai trabalhar com essas pessoas, como o profissional de saúde vai saber o que fazer? A educação é uma necessidade permanente e toca também nas instituições de ensino. Quantos de vocês já visam alguma matéria relativa a isso em uma grade curricular?”, questionou.
Sergio Prinstop, gestor do Laboratório T de Canoas
A expectativa de vida de LGBTs negros é menor que a das demais populações, por uma série de fatores que se coadunam. De acordo com Sergio, os índices de suicídio são altos e o abandono de tratamentos também, por conta da falta de humanização dos espaços de saúde.
A humanização das questões que envolvem corpos negros foi ponto da outra palestrante da noite, a socióloga Bia Soares, que lembrou o quão desrespeitados os das mulheres negras foram ao longo da história. Atuando como técnica de enfermagem durante muitos anos e atualmente se dedicando também à psicoterapia, ela concorda com Sergio sobre a interseccionalidade de preconceitos e discriminações afetar a saúde física e emocional da população negra. “Existe um sistema que nos diz o tempo todo onde é o nosso lugar, o que podemos fazer, em quê acreditar, e nós não vamos mais permitir que ele nos machuque. Chega de violência! Sejamos um grande clã que diz basta!”, convidou.
A socióloga Bia Soares defende que é preciso trabalhar a cura das humilhações sofridas pela população negra
Para Bia Soares, não se pode perder nenhuma oportunidade de transformar o mundo em um lugar melhor. “Por isso espaços como esse aqui são tão significativos. Temos que nos preocupar com todos. Vamos nos municiar de informações. Nossos antepassados lutavam com lanças, nós temos de lutar com argumentos”, celebrou.
A diretora do Sindisaúde-RS, Marly Magalhães da Roza, fez a abertura do evento com a música “Canto das três raças”, de Clara Nunes
Isabete Fagundes Almeida, poetisa que dividiu suas belas palavras com os participantes
Evento foi encerrado com a apresentação de dança de Aline Sanirah (ao centro), com coreografia de Tânia Amaral